Resenha
Autor: Rubens Xavier Lima
As incursões de caráter colonizador na América portuguesa promoveram contato entre portugueses e nativos. Os colonizadores se aventuraram pelo interior – denominado de sertão – com representações já construídas para esse território: lugar no qual se poderiam encontrar riquezas, mais distante e não colonizado. A chegada dos portugueses em áreas ocupadas por nativos resultou em intensos confrontos entre ambos os povos Pretensamente civilizados, os colonizadores objetivaram civilizar e catequizar os indígenas. Nesse contato de matrizes culturais distintas, as relações foram conflitantes e acomodativas também. Praticas culturais diferenciadas foram desenvolvidas em um mesmo território promovendo um processo de iniciação de conflitos entre o nativo e o explorador das suas riquezas naturais.
A REVALTA DE BECKMAN E A GUERRA DOS MASCATES
No final do século XVII, e início de XVIII surgiram os primeiros conflitos de maiores consequências conflituosas para a colônia portuguesa. Muitos autores relacionam esse clima de conflitos à nova política colonial adotada por Portugal depois da Restauração em 1640. Pois, nesse contexto, as contradições entre metrópole e colônia se manifestaram de diversas maneiras. O protesto ao regime monopolista, exemplificado com a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão e o conflito entre senhores de engenho e mercadores, traduzidos na Guerra dos Mascates em 1709-1711 em Pernambuco são exemplos das manifestações dos colonos na América Portuguesa.
Entretanto, as rebeliões coloniais até o inicio do século XVIII não chegaram a propor claramente a emancipação política como solução, à proposta de ruptura só será evidenciada em movimentos como a Inconfidência Mineira em 1789 e a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates em 1798.
A revolta liderada por Manoel Bechman, um abastado senhor de engenho, também conhecido por Bequimão, eclodiu em 1684. Os revoltosos invadiram as instalações da Companhia, saquearam os armazéns e tentaram organizar um governo local. Expulsaram os jesuítas com o apoio da Câmara Municipal de São Luiz e dos padres Carmelitas. Os colonos do Maranhão propunham a abolição do monopólio da companhia e uma relação comercial mais justa.
Foi composto um governo provisório, sob o comendo de Manoel Beckman e, seu irmão Tomás Beckman, foi enviado a Lisboa para apresentar as reivindicações dos revoltosos. Tomás Beckman foi prese e recambiado para o Brasil, na mesma frota em que veio o novo Governador do Maranhão, Gomes Freire de Andrade. O novo governador foi recebido com obediência, e, em seguida, reconduziu as autoridades depostas. Manoel Beckman foi executado.
GUERRA DOS MASCATES
Trata-se de um conflito ocorrido em Pernambuco entre senhores de engenho e grandes comerciantes, denominados de “mascates”, na maioria portuguesa. Esses comerciantes foram atraídos para o Recife que após a expulsão dos holandeses havia se tornado em centro comercial estratégico.
Já Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. O desenvolvimento comercial experimentado por Recife passou a ser controlado por comerciantes, testemunhavam o crescimento do comércio, indicando que essa atividade já era mais importante que a atividade açucareira, à que se dedicavam os senhores de engenho olindenses.
Com a concorrência das Antilhas, os senhores de engenhos já vinham sofrendo prejuízos que colocou em crise a produção de açúcar no nordeste. Mas, ainda tinham plenos poderes, pois, controlavam a Câmara Municipal de Olinda.
Com o crescimento de Recife, os mercadores ganharam importância e começaram a reivindicar a sua autonomia política-administrativa, buscando libertar-se de Olinda e da autoridade da sua Câmara Municipal. A Reivindicação foi atendida e Recife tornou-se uma Vila independente com direito a ter sua Câmara Municipal. Os Comerciantes libertaram-se definitivamente das autoridades de Olinda.
Os senhores de engenho de Olinda, não aceitaram essa independência e resolveram fazer uso da força para impedir as pretensões dos comerciantes. O conflito estourou, com agressões dos dois lados. O governo Metropolitanointerveio em favor dos comerciantes, Após o conflito Recife foi equiparada a Olinda, terminando assim a Guerra dos Mascates, cuja vitória, reafirmou o predomínio mercantilsobre a produção colonial. Considerando que os senhores de engenho eram frequentemente devedores dos comerciantes, pode-se dizer que a equiparação política das duas cidades tinha fortes razões econômicas e obedecia a lógica do sistema colonial.
MATOS, Katia Maria de Queirós. Os conflitos no Brasil Colonial, Salvador. Corrupio, 2004.
TAVARES, Luiz Henrique Dias, guerras no Maranhão e em Pernambuco. São Paulo Pioneira; Brasília. INL. 1975.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH - XXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA; 2007.
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