segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


O CORONELISMO NA BAHIA
                                              Autor: Rubens Xavier Lima


HORÁCIO DE MATOS O GOVERNADOR DO SERTÃO
Palavras Chaves: Coronelismo, Sertão, Coluna Prestes, Jagunço.
Video Parte 1

Video Parte 2

INTRODUÇÃO

            Não se passa pela vida sem deixar marcas. Um objeto, uma canção, “todo e qualquer vestígio do passado, de qualquer natureza”, define o documento histórico. Anacronismos aparecem, heróis fictícios, informações sem fontes. A heurística cuida da verificação a sustentabilidade das fontes históricas. As informações que embasa esse artigo são elaboradas a partir da análise de fontes bibliográficas. Sua função principal é, partindo-se da síntese e da estruturação conceitual, ampliar o entendimento sobre a vida do Coronel Horácio de Matos e ampliar a familiaridade do assunto com o conhecimento cientifico. Este artigo é “testemunho definitivo da bravura e decência de um dos mais fascinantes coronéis do sertão” (Olímpio Barbosa 2008).
A PAISAGEM DA CHAPADA

“O mais importante dos sistemas orográficos brasileiros domina o território das Minas Gerais, com a Mantiqueira e suas diversas ramificações e avança em forma de esporões abertos para cima e em cujo meio, ao longo de uma forte depressão cenozoica corre o Rio São Francisco, engrossando pelos rios das vertentes.
Para oeste e noroeste é a Serra Geral – o Espigão Mestre, estendendo-se até Goiás e até o Piauí.
Para o lado Oriental, depois da formação da Serra do Espinhaço, ainda no estado de Minas Gerais, penetra a fundo no coração geográfico da Bahia e, entre os paralelos de 11 e 14 graus de latitude sul, situa-se, calculadamente, numa área de 370 quilômetros de comprimento por 228 de largura.
É a Chapada Diamantina.
Não obstante estar compreendida, em toda sua extensão, na zona tropical, a Chapada Diamantina possui acentuada diversidade de climas e de paisagens botânicas, que vão da mata fabulosa de madeira de lei às savanas, aos campos gerais e caatingas ralas, Sendo a região mais elevada do território baiano, as altitudes como não poderia deixar de ocorrer corrigem- lhe a latitude determinando em muitos pontos, médias térmicas moderadas. É comum nos municípios que a compõe registrarem-se temperaturas mínimas nos meses de maio a agosto, de até 8 graus, como Morro do Chapéu, Piatã, Palmeiras, Mucujê.
Já a cidade de Lençois, construída em pleno ciclo de mineração na concha de um dos contra fortes mais acidentados da Serra do Sincorá, apresenta amplitude térmica angustiante, oferecendo no período das chuvas, espetáculos de uma beleza aterradora, acontece eas tempestades com tamanha violência se abate, de repente de maneira inexorável, sobre as lavras, numa orgia incontida de relâmpagos, de estalidos e gemidos siderais.
Mas ai é que o rio se torna o rei absoluto da paisagem. Onde quer que a vista alcance, há uma torrente descendo das serras, turrando espumando bravio. Pode ser o Santo Antônio, O São José, O Piranhas, o Lençóis, o Garapa, o Cochó, o Roncador, o Utinga, o Piçarras ou o Paraguaçu, dono daquele mundo, que os reúne a todos numa só unidade a correr pelo vale imenso.
É o rio – com o qual o garimpeiro mede forças, algumas vezes vai tragado por ele, torna-se, depois, aliado amigo, companheiro, nas mais temerárias e na mais sonhada de todas as suas aventuras: a busca do diamante”. (Walfrido de Morais, 1997).
DESENVOLVIMENTO
1.0 GÊNESE
            Nas últimas décadas do século XIX, na povoação de Chapada Velha, distrito de paz do município de Brotas de Macaúbas, havia uma irmandade de varões fortes, de certo modo imponentes, agricultores e criadores, tendo uma mistura da atividade de garimpagem, pois aquela povoação, antes de ter a referida denominação era o centro da zona em que lapela metade do referido século, foram descobertos os primeiros diamantes da Província da Bahia, isso por garimpeiros vindos de Diamantina e de Grão Mogol, da Província de Minas Gerais.
            A irmandade era composta de Clementino, Canuto, José Joaquim, Reinério, Innocêncio e Manoel Pereira de Matos.
            Pelos nomes e outras características pessoais é de supor-se que eram descendentes de portugueses.
            O Historiador Francisco Borges de Barros, na sua obra À margem da História da Bahia, diz que, em 1841, o alferes José de Matos, vindo da mineração de Diamantina explorou o Assuruá e, em 1843, apanhou diamantes na Chapada Velha.
            Não se pode dizer seguramente, mas é provável que a alferes José de Matos fosse o ancestral ou parente dos Pereira de Matos. (citado por, Tácio de Matos, em Mucugê. Ba).
            Todos se dedicaram ao trabalho, pela probidade, pelo valor da palavra, pelo amparo aos fracos, pela dignificação da família e pela iniciativa nos atos de vida social, sendo que, de todos o mais salienteera Clementino, portador de maior valor pessoal e de pequena instrução, e que, naturalmente foi elevado a chefe dos Matos.
            Era o principal homem do distrito e, assim desempenhava sempre a primeira autoridade, em vários períodos exercia a junção de juiz municipal, cargo que então existia na organização da Justiça, permitida a suplência por leigos.
            É certo que no seu distrito na aflorava rancor ou ódio que lhe pudesse denegrir sua autoridade patriarcal que ele exercia para com os parentes e para com seu povo em geral, mas, como seu nome não era falado somente ali e sim em todo o município e em muitos outros, inimigos interesseiros ou gratuitos se foram formando, os quais espreitando oportunidades, não podia deixá-la na política que, em geral, não tem entranhas, e, no interior da Província e nos últimos anos da história da Monarquia.
            Entre a Chapada Velha, lá no alto Sertão, e Lençois nas Lavras Diamantina havia certas afinidades.
            Até 1843, só havia garimpagem de diamantes em Chapada Velha, mas com a descoberta de Diamantes em Mucugê, em 1844, dali se mudou para cá essa atividade, que se alastrou logo para os lugares de Roncador, Lençois, Pedra Cravada, Estiva e Andaraí, sendo que, dentro de uns doze anos, Lençois ficou sendo o núcleo principal das novas descobertas.
            Os matos não eram só os irmãos cujos nomes já foram mencionados havia outros que, daqueles com quem formavam pelos mesmos hábitos, eram primos, sobrinhos e primos-irmãos.
            Era, dentre eles Quintiliano Pereira de Matos tido, em geral, por irmão de Clementino, de quem, aliás, era primo e concunhado, como afirma Tácio Matos, sendo eles dois, como diversos outros da irmandade, casados com senhoras de uma outra irmandade, filhas de uma família Queiros, gente geralmente com recursos e muito briosa, do Assuruá, região próxima de Brotas.
            Clementino de Matos, casado com dona Ana Rita de Queiros, não teve muitos filhos: um só filho e uma filha, apenas.

1.1 NASCE HORÁCIO  

No dia 18 de março de 1882, na fazenda Capim Duro, Distrito de Chapada Velha, no município de Brotas de Macaúbas, nasceu uma criança que veio a ser batizada com o nome de Horácio, filho do casal Quintiliano Pereira de Matos e Hermínia Gomes de Queiros.
            Foi sempre bastante seguro em suas decisões e muito empreendedor em suas atitudes, procurando seguir os princípios da fidelidade, a si mesmo e ao próximo, com uma vontade firme e perseverante ao perseguir um ideal. Talvez, por essa razão, tenha sido escolhido, por seu tio Clementino, para substituí-lo na liderança da família Matos, quando chegasse o momento oportuno. Esse bastão lhe foi passado, pelo próprio tio, que lhe mandou vir à sua presença, quando Horácio ainda era ainda muito jovem e residia em Morro do Chapeu, no interior da Bahia. Defronte ao tio, ele recebe o comando da família e de toda a Chapada Velha. Recebe, juntamente com essa incumbência, o Código de Honra dos Matos, como se fosse uma Bíblia Sagrada, sobre a qual teria que prestar um juramento de cumprir aqueles mandamentos.


Clementino de Matos

1.2 O NOVO COMANDANTE DOS MATOS
            Tão logo assume o poder patriarcal, Horácio vai a segredo até o maior inimigo do clã, propondo uma trégua, que é aceita pelo Coronel Militão. Essa trégua permitiu que famílias de Brotas de Macaúbas e Barra do Mendes, durante muitos anos afastadas, viessem a se visitar e conhecer. Horácio começou a se projetar como líder quando evita as pretensões de Militão, quando morre o Coronel José João de Oliveira em Brotas, em ocupar maior espaço de domínio.
Entretanto, a paz dura até a morte do seu irmão, Vitor Matos, na noite de quatro de dezembro de 1914. Finda a Trégua na Chapada.





Horácio de Matos
1.3 O BATISMO DE FOGO
            Vitor Matos já contava com dezenas de mortes em seu histórico e assassinou um homem que era cunhado do jagunço chamado Juvenal Cuscus, protegido do chefe político de Campestre (hoje distrito de Seabra) Manoel Fabrício.
Em dezembro de 1914, Vitor é morto com dois tiros de rifle por Cuscus, que se refugiou em Campestre. Apesar de a família pedir a pronta vingança, Horácio defende a resolução do conflito pela justiça, mas as intimações são rasgadas em praça pública. Em junho do outro ano, Horácio protesta junto ao Governador, mas não obtém resposta.
Horácio decide, então, atacar a vila. A Batalha de Campestre, que durou 42 dias de cerco e lutas, foi a primeira na vida deste homem que, apesar de pregar o desarmamento do sertão, viveu sempre em lutas.




Vitor Matos
1.4 O CERCO A CAMPESTRE
            Após vencer mais de 20 léguas até Campestre, a cidade é cercada. Contava, para a defesa, cerca de 200 homens, dentre os quais 50 soldados da polícia estadual. Manoel Fabrício contava, ainda, com uma fortificação erguida para a defesa.
Estrategicamente, Horácio manteve o cerco, esperando que a fome fizesse a parte maior do combate. Em alguns dias, o tenente Pedra e seus soldados desertam, tendo de Horácio a garantia de que não seriam mortos.
Ao lado de Horácio o chefe político de Pau Ferro, Euzébio Gaspar de Souza, venceu os reforços de 130 soldados enviados da capital em socorro a Campestre, sob o comando do italiano Lelio Frediani.
Ao fim de 42 dias o antigo e poderoso chefe de Campestre rende-se, com a promessa da reabertura do inquérito da morte de Vitor, marcando assim a decadência de Manoel Fabrício, esse que foi um importante chefe político do interior.

            Walfrido de Morais descreve, minuciosamente, em sua obra “Jagunços e Heróis”, a vida de Horácio de Matos, com quem conviveu bastante tempo, conhecendo de perto toda a saga da família.
            Walfrido nasceu na cidade de Lençois, na Bahia, no ano de 1916 (faleceu em Salvador, em 2004)”. Aos onze anos, já trabalhava como aprendiz de tipógrafo do jornal “O SERTÃO”, de propriedade de Horácio de Matos e, aos dezessete anos já era o redator-chefe desse periódico, tornando-se dessa maneira, um grande conhecedor dos grandes acontecimentos daquela sociedade, pois vivenciou, também, a maioria dos fatos políticos, das rixas de famílias inimigas, das lutas muitas vezes sangrentas, travadas por aquelas redondezas, envolvendo, desde os sertanejos, até os mais altos escalões das forças federais do país. (Gilson Matos)           
1.5 O CÓDIGO DE HONRA      
Ele descreve em sua supracitada obra, a respeito do Código de Honra da Família Matos, afirmando que os seus ditames sempre constituíram o ponto forte do perfil do Coronel da Chapada. Assim eram os seus artigos:
“Não humilhar ninguém – mas também nunca se deixar humilhar, por quem quer que seja”;
“Não roubar, jamais, seja quais forem as circunstâncias – nem permitir que alguém roube e fique impune”;
“Ser leal com os amigos e parentes, protegendo-os sempre”;
“Ser leal com os inimigos, respeitando-os em tempo de paz e enfrentando-os em tempo de guerra”;
“Não provocar, nem agredir- mas se for ofendido colocar a honra acima de tudo e reagir na melhor extensão da palavra, porque de nada adianta a vida sem dignidade”.
            Depois da morte do seu tio Clementino, Horácio foi residir em Lençois, abriu uma loja comercial, onde negociava com tecidos e outras mercadorias de armarinho. Mais tarde começa a trabalhar com um negócio bem mais lucrativo, a compra e venda de diamantes, que lhe rendeu excelente lucros e um sólido patrimônio. Tinha também uma tipografia onde era editado o jornal “O SERTÃO”.
            Horácio de Matos percorreu uma longa trilha, permeada de brigas de famílias, disputas políticas dentro e fora do seu município, lutas de jagunços rivais e ainda diversas perdas de amigos e familiares, envolvendo, tocaias, tiros, assassinatos e derramamento de sangue.
1.6 A DISPUTA CONTRA MILITÃO



                                                                   
Militão R. Coelho
            A trégua habilmente pactuada por Horácio tem fim quando em 1918, Militão Coelho invade Brotas de Macaúbas a fim de prender o “major Venas” (Joviniano dos Santos Rosa, tabelião, que lhe desobedecera). O major era compadre de Horácio, inclusive criando-lhe duas filhas naturais. Dando mostras do seu estilo, o velho coronel ainda atira no maxilar de sua vítima, para que este nunca mais discuta suas ordens. Horácio vê que somente pela força pode se entender com Militão: invade Brotas de Macaúbas, resgatando seu compadre e preparando-se para a resposta. Militão que estava na capital, retorna e os combates tem início.
            Duas batalhas decidem o destino desta primeira refrega, após dois meses de intenso combate. Horácio assume a chefia política da cidade, feito Intendente, ao passo que Militão se fortifica em Barra dos Mendes, então distrito de Brotas.
            Derrotado em armas, Militão obtém uma vitória política, junto ao Governador Antônio Muniz, com a emancipação de Barra do Mendes, levando ainda o distrito de Fundão e exigindo o distrito de Guigós.
            Renovato Alves Barreto, líder daquela cidade, pede ajuda a Horácio, que envia 50 homens a Gentio do Ouro, então um povoado entre as duas cidades.
            Militão manda crucificar um amigo de Horácio, Onésimo Lima, e seus jagunços expropriam a Fazenda Melancia, tomando todo o gado de um seu parente. A guerra estava declarada.
1.7 A CONQUISTA DE BARRA DO MENDES
            Reconquistando a Fazenda Melancia, Horácio vence as barreiras impostas uma a uma, através de trincheiras. O coronel finalmente inicia o cerco à cidade, mandando um ultimato para que as famílias pudessem sair em segurança.
            Nas refregas, que duraram longos cinco meses. Horácio protagonizou um ato de heroísmo que animou sua tropa: tendo sido morto um seu sobrinho, e temendo o lugar onde este tombara, o coronel teria pessoalmente se esgueirado até o local tido como amaldiçoado e o conquista. Depois da queda dessa trincheira, seus jagunços encheram-se de novo ânimo, destruindo a fortaleza de Militão com dinamites, forçando a fuga do inimigo: não sem antes capturar Nestor Rodrigues Coelho, filho de Militão – libertando-o em seguida.
            Horácio exigiu que Militão fosse expulso da política local e que a sede do município de Barra do Mendes fosse transferida para o Jordão (hoje Ipupiara). Horácio de Matos e João Arcanjo reanexaram informalmente o território de Barra do Mendes ao de Brotas de Macaúbas. A extinção oficial do município se deu pela lei estadual número 1.388 de 24 de maio de 1920.
Era o fim do velho Militão e início da hegemonia sertaneja de Horácio de Matos
            Labutou por longos anos de sua existência, tentando conseguir uma trégua com os antigos caciques das Lavras Diamantina, numa batalha que exigia muita diplomacia e inteligência.
            Num certo momento dessa história, consegue tornar-se o líder maior da Chapada Diamantina, sendo a sede do seu poder e militância política “o solar da família Matos, um bonito casarão em estilo gótico, elegantemente mobiliado, onde se via sobre a mesa de jantar, uma rica prataria portuguesa e porcelana de Limoges”, (citado oralmente por *Magnólia Xavier Matos), (nora do caudilho e tia de um dos escritores desse artigo. Rubens Xavier Lima).
            O grande jornalista e repórter Domingos Meireles, autor da espetacular obra sobre a marcha da Coluna Prestes “A Noite das Grandes Fogueiras”, foi até a cidade de Lençois e visitou o solar da Família Matos.
            Em Mucugê, cidade próxima a Lençois, ainda reside um dosfilhos do Coronel, Tácio Matos dono de um dos arquivos mais completo sobre a vida do seu pai, um Baú recheados de documentos e registros outros contendo um verdadeiro tesouro que os historiadores baianos acreditavam estar desaparecido. Trata-se do arquivo pessoal do grande Coronel da Chapada. Há correspondências oficiais por ele mantida com o Ministério da Guerra, repleta de narrativas detalhadas a respeito dos confrontos com os revoltosos da Coluna Prestes, existe também no meio desses documentos, uma joia valiosa para pesquisas: um diário de campanha de jagunços, escrito por Franklin de Queiros, primo de Horácio. Ali está registrado, também, o grande sofrimento que a horda de jagunços passava ao perseguir os rebeldes.
            Segundo Dona Magnólia Xavier Matos,(nora do Coronel) relatou que ele conviveu, bastante tempo com uma companheira de nome Laura, com quem teve duas filhas. Mas quando estava com quase 40 anos de idade, em 1922, resolve contrair matrimônio com a senhorita, Augusta Medrado, filha do Coronel Doca Medrado, da cidade de Mucugê. Dessa união, nasceram cinco filhos: Horacina, Horácio de Matos Junior, Tácio Matos, Juth e Judith
            Com a forte imposição política do Coronel Horácio, a cidade de Lençois se destaca no estado da Bahia, tornando-se a capital do sertão. Horácio foi nomeado pelo governador da Bahia J.J. Seabra. Delegado Regional da Zona Centro-Oeste da Chapada Diamantina.
            Horácio tinha uma constituição física franzina e uma timidez aparente, o que contrastava com a imagem que todos faziam deles, baseada na fama adquirida de sua bravura e coragem para enfrentar um inimigo, vencendo qualquer obstáculo.
            Não foià toa que o Presidente da República, em 1926, por ocasião da invasão da Coluna Prestes à Chapada Diamantina, ficara profundamente receoso que o Coronel Horácio de Matos se unisse aos revoltosos. Quanto mais que ele havia se desentendido com o Governador do seu estado pelo fato do mesmo haver nomeado um delegado de polícia, que era um inimigo jurado de sua família, para tomar conta da cidade de Lençois. O cargo de delegado era muito importante para ser deixado em mãos de um inimigo. Horácio, então, expulsou o cidadão para fora da cidade e enxotou também todas as forças policiais que foram enviadas àquela cidade em defesa desse delegado. Os seus fiéis jagunços, em uma só tocaia, conseguiram resolver o problema. Dizimaram 20 soldados e feriram uns 30.
            O presidente Artur Bernardes tomara conhecimento dessas ocorrências e, pior ainda, soubera também que Horácio pretendia derrubar o governo da Bahia. Todavia, os amigos mais influentes do Coronel, que sabiam da sua revolta e indignação para com o Governador, receosos de que o mesmo se debandasse para o lado daqueles que estavam contra o governo, resolveram interceder junto à Presidência da República e ao Governador da Bahia, pressionando-os a fazerem um honroso acordo de paz com o Coronel Horácio. E, assim, o Presidente da República e o Governador da Bahia Gois Calmon, acataram de imediato esses aconselhamentos, preocupados com as consequentes repercussões à politica nacional.
1.8 O COMBATEÁ COLUNA PRESTES           
           





Chefes do batalhão patrióticos Chapada Diamantina (Horácio e comandantes)
O presidente Bernardes, que já era já era amigo de Horácio, inclusive, solicita-lhe o seu apoio no combate aos revoltosos.
            Na verdade, Horácio já se encontrava em preparativos de um batalhão de jagunços para combatê-los, pois os mesmos haviam assassinado duas pessoas de sua família, um sobrinho e um primo, e ele, também, jamais poderia deixar de atender um pedido do presidente a quem devotava uma grande gratidão.
            Os amigos da Chapada se reuniam todas as noites no solar dos Matos para lhe narrar os acontecimentos decorridos com as incursões da coluna, as invasões, os saques, os roubos. Enfim, o sofrimento que os pobres coitados da região estavam passando.
            Horácio organizou o Batalhão Patriótico Lavras Diamantina, um exército formado por 560 homens armados, entre jagunços e militares, que perseguiu A Coluna durante muito tempo, seguindo o seu rastro até a Bolívia. Horácio recebia as orientações por parte do Coronel Álvaro Guilherme Mariante, representante do Ministério da Guerra. A patente de Coronel lhe foi concedida pelo Presidente Artur Bernardes. Tendo recebido, também, fardas e armamento do Exército Brasileiro para o seu Batalhão. Horácio comandou o Batalhão Lavras Diamantina, juntamente com o coronel Abílio Volney, do Norte de Goiás, que tinha 300 soldados, além de outro batalhão comandado por Franklin de Albuquerque, de Pilão Arcado. Jorge Amado, em sua obra “Cavalheiros da Esperança”, afirma que esse trio foi invencível no combate à Coluna de Carlos Prestes e foi também muito aplaudido pelo Governo Federal.
            Em situação de penúria encontrava-se o pobre sertanejo que não queria saber de ideais políticos e nem sabiam o que estava acontecendo. Não tinham acesso a jornais, muitos não conheciam sequer um rádio. A única preocupação do Jagunço (ou grande soldado) era obter o pão de cada dia para o seu sustento e da sua prole.
            O caudilho nordestino mantinha-se em contato com outras cidades, com pessoas influentes da capital e, até mesmo, com a alta cúpula do governo federal, através de cartas e telegramas ou mensageiros especiais. O serviço de Telégrafos funcionava a contento.
            O Batalhão perseguiu a Coluna até a Bolívia. Ao retornar dessa ação, Horácio fez uma cirurgia de apendicite, às presas, no Rio de Janeiro. Ao voltar à Chapada, ele é recebido e aplaudido como herói.
            Encontra toda a sua região com sérios problemas financeiros, enfrentando uma terrível crise econômica e social, que fora intensificada com a invasão da Coluna e as batalhas que tiveram de enfrentar.
            Ao retornar o Coronel é nomeado Intendente de Lençois, pois já não lhe interessava o cargo de Delegado Regional e nem desejava mais comparecer ao Senado Estadual.
1.9 A MARCHA CONTRA SALVADOR
            O cenário político da Bahia era dominado pela figura do Governador Seabra que, num acordo, firmara seu apoio a Antônio Muniz, que o sucedera, desde que o mesmo fizesse o mesmo de volta.
            Assim, vencendo uma oposição que contava com nomes como Ruy Barbosa, Luiz Vianna, Simões Filho e Otávio Mangabeira, J.J. Seabra consegue voltar ao governo. Derrotava Paulo Martins Fontes. A oposição engendrou um plano, que contaria com a participação ativa de Horácio de Matos: o sertão iria contestar a eleição e provocar um levante armado. Esta situação forçaria uma intervenção federal, impedindo a posse de J.J. Seabra e com a realização de novas eleições, Seabra sairia desmoralizado.
2.0 A ADESÃO DE HORÁCIO
            Tendo em duas ocasiões enfrentado as tropas da polícia, enviada por Antônio Muniz contra si no momento do cerco a Campestre, Horácio não hesitou em responder aos opositores positivamente. Os recursos e armamentos eram garantidos pelos opositores à Seabra.
            (Com o apoio de outros coronéis – Anfilófilo Castelo Branco, de Remanso e Marcionílio Antônio de Souza, de Maracás), Horácio invade e conquista a maior cidade da Chapada, Lençois, que se entrega sem que um só tiro seja disparado.
            Em 17 de fevereiro de 1920, Antônio Muniz Aragão pede a intervenção federal. Epitácio Pessoa despacha à Bahia dez mil soldados. A posse de J.J.Seabra é assegurada e o comandante do exército acha prudente negociar a paz, evitando assim a marcha a Salvador.
2.1 UM “GOVERNO” NO SERTÃO: O CONVÊNIO DE LENÇOIS
            A proposta é levada ao Coronel pelo General Cardoso de Aguiar e a Horácio é oferecido, em linhas gerais, um acordo que lhe dava a chefia plenipotenciária de onze cidades da Chapada – Lençois, Palmeiras, Seabra, Barra do Mendes, Brotas de Macaúbas, Paramirim, Bom Sucesso, Boninal, Wagner, Macaúbas e Piatã e ainda:
- Anistia por todos e quaisquer atos praticados durante o levante;
- Direito de Permanecer com as armas e munições;
- Manoel Fabrício e desarmado e expulso de Campestre;
- Direito de eleger dois deputados estaduais;
- Direito de eleger um Senador Estadual.
            Esse convênio não garantiu a paz no Sertão.
2.2 A MARCHA CONTRA LENÇOIS
            A sucessão de Seabra foi uma surpresa: é eleito Góis Calmon, um jovem político praticamente desconhecido.
            Só que as mensagens telegráficas que Horácio mandava para a capital eram adulteradas pelo Telegrafista, partidário do seu adversário, coronel César Sá: de Góis Calmon recebe apenas mensagens acintosas e confrontadoras.
            O Governador então destituiu o delegado da cidade, partidário de Horácio, nomeando um fazendeiro aliado de César Sá. Sua posse é impedida por Horácio e este marcha contra Lençois. Sob seu comando estavam cerca de 700 homens, contra cerca de 300 da cidade.
2.3 “CORPO FECHADO”
            Ao cerco resistem bravamente Horácio e seus soldados. As batalhas se sucedem. O major Mota Coelho manda avisar que entrará na cidade. Horácio prepara-lhe uma cilada, à entrada. Quando o major aponta, acompanhado de uma pequena tropa, o próprio Horácio se apresenta de peito aberto – com seus jagunços atirando pelos lados – assombrando aos assaltantes. Mota Coelho é morto e uma bala sem muita força perfura o paletó do Coronel Horácio sem sequer feri-lo: tem início mais um mito em torno desta legendária figura. Horácio de Matos tem o “corpo fechado”.
Com a revolução de 1930, a |Brigada Revolucionária promoveu um desarmamento geral para “assegurar a paz e a prontidão da justiça”. No país. Horácio tomou conhecimento dessas medidas oficiais, ao receber um comunicado da Brigada, através de um telegrama, no qual lhe era solicitado o seu apoio para a entrega do armamento que ainda se encontrava em seu poder. Ele aceitou prontamente, não somente pelo sentimento de patriotismo, mas também porque esse ato representava a consolidação do seu desejo.
            Depois disso, a cidade de Lençois ficou cercada de soldados por todos os lados. Foi uma confusão geral. E sem que ninguém pudesse compreender o desenrolar dos acontecimentos, o Coronel é preso, de surpresa e conduzido à Capital pelo tenente Hamilton Pampa o mesmo acontecia com todos os coronéis do sertão. Toda a Chapada e seus amigos da capital se sentiram indignados com essa medida.
            Assim que o coronel chega a Salvador, houve uma grande moção por parte de autoridades políticas, eclesiásticas e jurídicas para promover o relaxamento da sua prisão, através de um habeas corpus. Logo foi expedido o alvará de soltura, porém, sob a condição de permanecer na capital.
CONCLUSÃO
A MORTE DE HORÁCIO
            No dia 15 de maio de 1931, ao entardecer, Horácio passeava despreocupado, pelo Largo do Acioli, nas proximidades do Areal de Baixo, em companhia de sua filha Horacina, de apenas seis anos de idade, que segurava pela mão, quando recebe pelas costas, uma rajada de três tiros, vindo a falecer.
            Foi um crime encomendado por Manoel Dias Machado e executado por Vicente Dias dos Santos. O autor intelectual do crime foi o tio da viúva do Major João da Mota Coelho, que morrera num combate com jagunços de Horácio nas proximidades de Lençois em 1925.
            O assassinato do Coronel Horácio de Matos, abalou profundamente a sociedade baiana, repercutindo de maneira comovente pelo sertão afora.
            E quando o corpo descia à sepultura, um jovem acadêmico de Direito, natural de Lençois, Alberto Morais, falou em nome de sua terra e do seu povo.
            “Com o teu desaparecimento o sertão esta órfão, quem nos poderia guiar de agora em diante, para a paz ou para a guerra, Quem terá condições para substituir-te e levar-nos com a mesma bravura à busca de nossas sagradas reivindicações de homens livres? Quem como tu poderá nos ensinar a corrigir as injustiças sociais e gritar contra as indiferenças dos governos?
            As palavras do jovem tiveram, contudo, sentido de sentença.
LEITURAS ADICIONAIS
Walfrido Morais. Jagunços e Heróis. 4 ed. Bahia: Empresa Gráfica da Bahia/IPAC, 1991.
Eoul-soo Pang. Coronelismo e Oligarquia – 1889 a 1934: A Bahia na Primeira República, Civilização brasileira, 1979.
Américo Chagas. O Chefe Horácio de Matos. Salvador: EGBA, 1996.
Claudionor de Oliveira Queiroz. O sertão como eu conheci. 2 ed. Salvador: ALBA, 1998.

REFERÊRENCIAS
SAMPAIO, Teodoro Fernandes. O Rio São Francisco, Cia. Das Letras, São Paulo, 2002.
MORAIS, Walfrido – Jagunços e Heróis 5. ed. Bahia: Empresa Gráfica da Bahia/Assembleia Legislativa, 1997.
AMADO, Jorge. O Cavaleiro da Esperança. Rio de Janeiro: Record. 34. Ed. 1987.
ARAKAVA, Maria de Lourdes Pinto – As Minas do Rio de Contas. 1.ed. 2006.
BARBOSA, Olympio. Horácio de Matos sua vida e suas lutas: 2. Ed. Salvador: Assembleia Legislativa do Estado da Bahia, 2008.
MATOS, Xavier Magnólia –Oralidade – 09/11/2011.
TVE, Bahia, vídeo: O Coronel Horácio de Matos.
FOTOS, do acervo particular da Sra. Magnólia Xavier Matos e Rui Rezende.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

SALIF KEITA

SALIF KEITA

SALIF KEITA

O MALI POSSUI PROVALVEMENTE, UMA DAS MAIS RICAS E ANTIGAS TRADIÇÕES MUSICAIS DO MUNDO. UMA HISTÓRIA COM MAIS DE 6000 ANOS DE EXISTÊNCIA.

É APENAS NO SÉCULO XIII. QUE OS MÚSICOS GANHARAM UM ESTATUTO ESPECIAL AO TOCAREM PARA O PRIMEIROREI DE MALI. O REI CAÇADOR SOUNDJATA KEITA.

DESDE 700 ANOS ATÉ HOJE, OS MÚSICOS DA ETNIA MANDINGA – DA QUAL FAZ PARTE O REI FUNDADOR KEITA TEM CONTADO A HISTÓRIA DO PAÍS E DAS NOTÁVEIS PERSONALIDADES DA ÁFRICA.

ESSES MÚSICOS SÃO CONSIDERADOS GRIÔTS (ARTISTAS NASCIDOS EM BERÇO MUSICAL COM UM DESTINO TRAÇADO NO CÓDIGO GENÉTICO): ANIMAM A CORTE COM CANÇÕES ÉPICAS E DE LOUVOR ACERCA DOS ATOS HERÓICOS DOS GUERREIROS E CAÇADORES ANCESTRAIS.


DESCENDENTE DO REI QUE FUNDOU O MAIOR IMPERIO DA ÁFRICA OCIDENTAL ATÉ O SÉCULO XV. SALIF KEITA TORNOU-SE NA DÉCADA DE 1980 UMA FIGURA DE GRANDE PRESTÍGIO DA MÚSICA AFRICANA.

O NOBRE SALIF KEITA NOTABILIZOU-SE PELA FUSÃO DA MÚSICA TRADICIONAL DA ETNIA MANDINGA E A MÚSICA POPULAR EUROPÉIA.

MAS, A SUA HISTÓRIA MUSICAL NÃO FOI FÁCIL. AO NASCER ALBINO SALIF DESPERTOU A IRA DOS SUPERTICIOSOS – SER ALBINO NO MALI, SIGNIFICA MÁ SORTE E PODE SER CAUSA DE ASSASSINATO -. COMO SE ISSO NÃO BASTASSE, A FAMÍLIA KEITA NÃO APROVOU O FATO DE SALIF TER-SE TORNADO MÚSICO, PELA SIMPLES RAZÃO DESSA ATIVIDADE ESTAR CONFINADA AOS GRIÔTS (TERMO DO VOCÁBULO FRANCO-AFRICANO CRIADO NA ÉPOCA COLONIAL PARA DESIGNAR O NARRADOR, CANTOR, CRONISTA). PELA TRADIÇÃO ORAL ELES TRANSMITEM A HISTÓRIA DE FAMÍLIAS E PERSONAGENS IMPORTANTES. SÃO CONTADORES DE HISTÓRIAS E SÃO CONSIDERADOS SÁBIOS MUITO IMPORTANTES E RESPEITADOS NA COMUNIDADE EM QUE VIVEM.

COMO NÃO PODIA DEIXARDE SER ELE HOMENAGEIA NELSON MANDELA, COM A CANÇÃO MADIBA (PAI DE TODOS).
LETRA DA MÚSICA:
Eu tenho lutado pelos negros, contra a dominação.
Tenho acalentado a ideia de Democracia e de uma
Sociedade em que as pessoas poderão viver juntas
Em harmonia e igualdade de oportunidades para todos
Mas, meu senhor esse precisa ser o ideal para os quais,
Estou preparado e luto todos os dias.

ENTÃO, NA LEITURA DA LETRA DA MÚSICA DE SALIF KEITA PERCEBE-SE QUE ELE RETRATA A HISTÓRIA DE NELSON MANDELA CONTRA O APARTHEID – QUE FOI UM REGIME DE DISCRIMINAÇÃO MAIS CRUEL QUE SE TEM NOTÍCIA NA MUNDO. ESSE REGIME VIGOROU NA ÁFRICA DO SUL DE 1948 ATÉ 1990. E DURANTE TODO ESSE TEMPO ESTEVE LIGADO Á POLÍTICA DO PAÍS.
INGLESES E AFRICÂNERS, PARA MINIMIZAR A INFERIORIDADE NUMÉRICA, EM 1911, FECHARAM UM ACORDO PARA APROVAÇÃO DE LEIS SEGREGACIONISTAS CONTA A POPULAÇÃO NEGRA.

APOLÍTICA DE SEGREGAÇÃO RACIAL FOI OFICIALIZADA EM 1948, COM A CHEGADA AO PODER DO PARTIDO NACIONAL. VENCE DANIEL MALAN, SIMPATIZANTE DA IDEOLOGIA NAZISTA. ELE USOU NA SUA CAMPANHA A PALAVRA APARTHEID, QUE SIGNIFICA – SEPARAÇÃO -.

O APARTHEID ATINGIA A HABITAÇÃO, O EMPREGO, A EDUCAÇÃO, OS SERVIÇOS PÚBLICOS. O NEGRO NÃO TINHA DIREITO ÀS TERRAS, NEM DE PARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA.ERAM OBRIGADOS A VIVER EM ZONAS RESIDÊNCIAS SEPARADAS DOS BRANCOS, O CASAMENTO E RALAÇÕES SEXUAIS ENTRE OS NEGROS E BRANCOS ERAM ILEGAIS.

OS NEGROS TRABALHAVAM GERALMENTE NAS MINAS, COMANDADOS POR CAPATAZESBRANCOS, E VIVIAM EM GUETOS MISÉRAVEIS E SUPERPOVOADOS.

PARA LUTAR CONTRA ESSA INJUSTIÇAS OS NEGROS ACIONARAM O C.N.A. – UMA ORGANIZAÇÃO NEGRA CLANDESTINA QUE TINHA COMO LÍDER NELSO MANDELA.

APÓS O MASSACRE DE SHARPVILLE EM 21 DE MARÇO DE 1960, ONDE FOI MASSACRADOS PELO EXÉRCITO SUL AFRICANO NO BAIRRO DE SHARPVILLE, 69 PESSOAS ENTRE HOMENS NEGROS CRIANÇAS, MULHERES EM PLENA PRAÇA PÚBLICA SIMPLISMENTE PORQUE PROTESTAVAM PACIFICAMENTE PARA PEDIR A EXTINÇÃO DA LEI DO PASSE, QUE OS OBRIGAVAM A PORTAR CARTÕES DE IDENTIFICAÇÃO POR ONDE LHES ERAM PERMETIDO CIRCULA.

O CNA (CONSELHO NACIONAL AFRICANO ) OPTOU PELA LUTA ARMADA CONTRA O GOVERNO DO BRANCO, ISSO FEZ COM QUE EM 1962, MANDELA FOSSE PRESO E CONDENADO Á PRISÃO PERPÉTUA.

EM 1991 SOB A PRESSÃO DA MAIORIA DOS PAÍSES DEMOCRÁTICOS DO MUNDO, O PRESIDENTE FREDERIC LE KLERK, NÃO TEVE OUTRA SAÍDA, DESFEZ OFICIALMENTE O APARTHEID E LIBEROU TODOS OS LÍDERES POLÍTICOS, ENTRE ELES NELSON MANDELA. QUE APÓS TRÊS ANOS EM 1994, TARNA-SE O PRIMEIRO PRESIDENTE NEGRO DA ÁFRICA DO SUL.

CULTURA E CONFLITOS NA AMÉRICA PORTUGUESA

                          Resenha
                                                                              Autor: Rubens Xavier Lima
           
            As incursões de caráter colonizador na América portuguesa promoveram contato entre portugueses e nativos. Os colonizadores se aventuraram pelo interior – denominado de sertão – com representações já construídas para esse território: lugar no qual se poderiam encontrar riquezas, mais distante e não colonizado. A chegada dos portugueses em áreas ocupadas por nativos resultou em intensos confrontos entre ambos os povos Pretensamente civilizados, os colonizadores objetivaram civilizar e catequizar os indígenas. Nesse contato de matrizes culturais distintas, as relações foram conflitantes e acomodativas também. Praticas culturais diferenciadas foram desenvolvidas em um mesmo território promovendo um processo de iniciação de conflitos entre o nativo e o explorador das suas riquezas naturais.
A REVALTA DE BECKMAN E A GUERRA DOS MASCATES
No final do século XVII, e início de XVIII surgiram os primeiros conflitos de maiores consequências conflituosas para a colônia portuguesa. Muitos autores relacionam esse clima de conflitos à nova política colonial adotada por Portugal depois da Restauração em 1640. Pois, nesse contexto, as contradições entre metrópole e colônia se manifestaram de diversas maneiras. O protesto ao regime monopolista, exemplificado com a Revolta de Beckman em 1684, no Maranhão e o conflito entre senhores de engenho e mercadores, traduzidos na Guerra dos Mascates em 1709-1711 em Pernambuco são exemplos das manifestações dos colonos na América Portuguesa.
            Entretanto, as rebeliões coloniais até o inicio do século XVIII não chegaram a propor claramente a emancipação política como solução, à proposta de ruptura só será evidenciada em movimentos como a Inconfidência Mineira em 1789 e a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates em 1798.
            A revolta liderada por Manoel Bechman, um abastado senhor de engenho, também conhecido por Bequimão, eclodiu em 1684. Os revoltosos invadiram as instalações da Companhia, saquearam os armazéns e tentaram organizar um governo local. Expulsaram os jesuítas com o apoio da Câmara Municipal de São Luiz e dos padres Carmelitas. Os colonos do Maranhão propunham a abolição do monopólio da companhia e uma relação comercial mais justa.
            Foi composto um governo provisório, sob o comendo de Manoel Beckman e, seu irmão Tomás Beckman, foi enviado a Lisboa para apresentar as reivindicações dos revoltosos. Tomás Beckman foi prese e recambiado para o Brasil, na mesma frota em que veio o novo Governador do Maranhão, Gomes Freire de Andrade. O novo governador foi recebido com obediência, e, em seguida, reconduziu as autoridades depostas. Manoel Beckman foi executado.
GUERRA DOS MASCATES
            Trata-se de um conflito ocorrido em Pernambuco entre senhores de engenho e grandes comerciantes, denominados de “mascates”, na maioria portuguesa. Esses comerciantes foram atraídos para o Recife que após a expulsão dos holandeses havia se tornado em centro comercial estratégico.
            Já Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. O desenvolvimento comercial experimentado por Recife passou a ser controlado por comerciantes, testemunhavam o crescimento do comércio, indicando que essa atividade já era mais importante que a atividade açucareira, à que se dedicavam os senhores de engenho olindenses.
            Com a concorrência das Antilhas, os senhores de engenhos já vinham sofrendo prejuízos que colocou em crise a produção de açúcar no nordeste. Mas, ainda tinham plenos poderes, pois, controlavam a Câmara Municipal de Olinda.
            Com o crescimento de Recife, os mercadores ganharam importância e começaram a reivindicar a sua autonomia política-administrativa, buscando libertar-se de Olinda e da autoridade da sua Câmara Municipal. A Reivindicação foi atendida e Recife tornou-se uma Vila independente com direito a ter sua Câmara Municipal. Os Comerciantes libertaram-se definitivamente das autoridades de Olinda.
            Os senhores de engenho de Olinda, não aceitaram essa independência e resolveram fazer uso da força para impedir as pretensões dos comerciantes. O conflito estourou, com agressões dos dois lados. O governo Metropolitanointerveio em favor dos comerciantes, Após o conflito Recife foi equiparada a Olinda, terminando assim a Guerra dos Mascates, cuja vitória, reafirmou o predomínio mercantilsobre a produção colonial. Considerando que os senhores de engenho eram frequentemente devedores dos comerciantes, pode-se dizer que a equiparação política das duas cidades tinha fortes razões econômicas e obedecia a lógica do sistema colonial.
REFERÊNCIAS
MATOS, Katia Maria de Queirós. Os conflitos no Brasil Colonial, Salvador. Corrupio, 2004.
TAVARES, Luiz Henrique Dias, guerras no Maranhão e em Pernambuco. São Paulo Pioneira; Brasília. INL. 1975.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA – ANPUH - XXIV SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA; 2007.